FESA Entrevista Lívia Azevedo, Diretora de Felicidade da Heineken, sobre a importância da implementação de políticas de felicidade corporativa
Em constante evolução, o mercado apresenta uma demanda inovadora para solucionar as dificuldades das companhias: A Diretoria de Felicidade. Essa cadeira tem ganhado cada vez mais importância nas empresas, tornando-se um pilar estratégico para o sucesso.
Com as organizações reconhecendo que um ambiente de trabalho onde os funcionários se sentem felizes e realizados resulta em produtividade aprimorada, maior engajamento e menor rotatividade, a busca pela construção desse espaço está se tornando comum.
Foi com este objetivo que a Heineken Brasil criou o cargo de Diretora de Felicidade, ocupado pela psicóloga Lívia Azevedo, que debateu sobre a importância de políticas e iniciativas que prezem pela construção de um ambiente que impacte positivamente na satisfação dos colaboradores, no FESA Entrevista deste mês.
O que significa ser uma Diretora de Felicidade, na prática? Quais são as principais ações e estratégias que fazem parte do seu dia a dia?
Meu principal papel é desenvolver e implementar estratégias para disseminar a Ciência da Felicidade e engajar a liderança nesse processo. No Grupo HEINEKEN Brasil, acreditamos que este tema é responsabilidade primária da liderança.
Para isso, estruturamos uma estratégia de quatro anos baseada em três pilares fundamentais: o desenvolvimento da liderança, capacitando nossos gestores para criar ambientes mais saudáveis e acolhedores; a formação de embaixadores da felicidade, colaboradores engajados que ajudam a disseminar a cultura do bem-estar na empresa; e a realização de pesquisas quinzenais de felicidade, que nos permitem monitorar a experiência dos colaboradores e ajustar nossas iniciativas que promovemos no dia a dia para fortalecer esses pilares, garantindo que a felicidade organizacional não seja apenas um conceito, mas sim uma prática real e mensurável.
Como Diretora de Felicidade, qual o maior desafio em criar e manter um ambiente de trabalho mais leve e positivo?
Nosso maior desafio é engajar a liderança nessa jornada. Implementar uma cultura organizacional voltada para a felicidade exige uma mudança de mindset que leva tempo para ser assimilada e colocada em prática. No entanto, um grande diferencial do Grupo HEINEKEN Brasil é que, desde o início, a felicidade foi incorporada à estratégia de negócios, com apoio do nosso CEO, Maurício Giamellaro.
Isso assegura que a pauta não seja vista como algo secundário, mas sim como um pilar essencial para o bem-estar e a produtividade dos colaboradores, tornando-se uma prioridade no dia a dia da organização.
Em sua experiência, quais são os principais mitos sobre felicidade corporativa que ainda precisam ser desconstruídos?
Um dos principais mitos sobre felicidade no trabalho é a ideia de que ela significa um ambiente sempre alegre e descontraído, onde todos estão constantemente sorrindo. Esse conceito equivocado leva à positividade tóxica, que ignora desafios reais e invalida emoções legítimas dos colaboradores.
Felicidade corporativa vai muito além disso: trata-se de construir um ambiente de segurança psicológica, onde as pessoas possam ser autênticas, estabelecer relações de confiança, ter liberdade para expor ideias e sentir um verdadeiro senso de pertencimento. É uma abordagem estruturada, que promove bem-estar de forma genuína e sustentável.
Como mensurar o impacto de iniciativas voltadas para o bem-estar dos colaboradores? Quais indicadores mostram que uma empresa está, de fato, investindo na felicidade do time?
As pesquisas mais recentes sobre Felicidade Corporativa demonstram que iniciativas voltadas para o bem-estar dos colaboradores têm impacto direto em indicadores estratégicos, como produtividade, atração e retenção de talentos, além da redução do turnover.
No World Happiness Summit, em Miami, o professor Jan-Emmanuel De Neve, da Universidade de Oxford, apresentou estudos que comprovam a correlação entre o bem-estar dos colaboradores, a valorização da empresa e o aumento dos lucros. Esses dados reforçam que a felicidade no ambiente de trabalho não é apenas um diferencial competitivo, mas um fator essencial para o crescimento e a sustentabilidade dos negócios.
Como você enxerga a evolução do conceito de felicidade corporativa no Brasil?
O tema vem ganhando cada vez mais espaço nas organizações. Desde o anúncio da Diretoria de Felicidade, temos recebido muitos pedidos de benchmarking, o que mostra o interesse crescente das empresas em entender e implementar essa abordagem. Participei de diversos fóruns com CEOs e líderes de RH e percebo uma evolução na compreensão do impacto da felicidade e do bem-estar na performance dos negócios.
Além disso, com a obrigatoriedade de identificar riscos psicossociais nas empresas, esse movimento tende a se fortalecer ainda mais. A relação entre felicidade, bem-estar e saúde mental, física e social está cada vez mais evidente, reforçando a importância de estratégias estruturadas para promover ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis.
Muitas empresas têm dificuldade em tornar a felicidade um valor genuíno e não apenas um discurso. Como evitar que o tema se torne algo superficial dentro da cultura organizacional?
Para que a felicidade organizacional seja genuína e não apenas um discurso, é fundamental baseá-la na ciência, garantindo que todas as ações sejam fundamentadas em estudos e práticas comprovadas. A alta liderança precisa estar engajada e ter esse conhecimento, pois sem seu envolvimento ativo, a consolidação dessa agenda se torna muito mais desafiadora.
Além disso, a felicidade deve ser incorporada de forma intencional no dia a dia da empresa por meio de rituais e da repetição de práticas que reforcem essa cultura. Quando os líderes promovem e vivenciam esse conceito de maneira autêntica, ele deixa de ser apenas uma iniciativa pontual e passa a fazer parte do DNA da organização.
Em tempos de trabalho híbrido e remoto, como criar conexões genuínas entre os colaboradores e manter um ambiente motivador mesmo à distância?
Embora o trabalho remoto e híbrido apresente desafios, nossa política inclui encontros presenciais, com a possibilidade de nos reunirmos no escritório para fortalecer os laços, promover a confraternização e manter um ambiente de trabalho mais conectado.
Assim, buscamos equilibrar a flexibilidade do trabalho remoto com momentos de interação que reforçam o vínculo emocional entre os colaboradores, essenciais para manter a motivação e o engajamento.
E para as empresas que optaram pelo retorno ao presencial, que desafios e oportunidades você enxerga para a felicidade corporativa nesse cenário?
O retorno ao trabalho presencial pode ser abordado de diferentes maneiras, e a forma como a empresa lida com essa transição é crucial para o bem-estar dos colaboradores. É sempre importante ouvir as demandas dos colaboradores antes de realizar mudanças significativas e ajustar a abordagem conforme necessário para garantir um impacto positivo.
Em todo caso, um aspecto essencial desse retorno é a flexibilidade, sempre entendendo o lado dos colaboradores. Isso ajuda a reduzir o impacto do retorno ao presencial na vida do funcionário.
Qual conselho você daria para líderes que querem transformar a cultura da empresa, mas não sabem por onde começar a inserir a felicidade como um pilar estratégico?
É fundamental buscar conhecimento sobre a ciência da felicidade, pois há diversos estudos que demonstram os benefícios dessa abordagem nas organizações. Um ótimo ponto de partida é o livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, de Shawn Achor, que apresenta de forma clara o impacto da felicidade nos resultados tanto das pessoas quanto dos negócios.
Por meio do conhecimento, é possível entender como implementar a felicidade como um pilar estratégico, trazendo benefícios concretos para a cultura organizacional e os resultados da empresa.
Como foi participar dos eventos FESA Experience sobre felicidade corporativa apresentando o case Heineken conosco?
Poder compartilhar o case da Heineken foi uma experiência enriquecedora. Ver o interesse genuíno de tantos profissionais de RH confirmou que estamos contribuindo de maneira significativa para a disseminação de um tema tão importante e inovador dentro das organizações.
Durante as conversas, foi possível notar que muitos estão realmente comprometidos em adquirir conhecimento e repassar esse aprendizado para a alta liderança das suas empresas.
Embora sejamos pioneiros nessa agenda, sabemos que ainda temos muito a fazer, mas a sensação de que estamos impactando o mercado é gratificante. Isso nos reforça que estamos vivendo o nosso propósito como empresa: criar momentos de verdadeira união para inspirar um mundo melhor. Agradeço à FESA Group por nos proporcionar a oportunidade de inspirar outras organizações com o nosso case e compartilhar o impacto positivo que a felicidade corporativa pode gerar.