FESA Entrevista Gisah Akel, Co-founder do Programa + Mulheres na Governança
Administrar uma empresa envolve a coordenação de recursos e pessoas para alcançar metas específicas. No entanto, há várias abordagens para essa gestão e uma das mais promissoras consiste em adotar os princípios da governança corporativa. Empresas que aderem a esses princípios estão mais bem preparadas para obter resultados positivos, reduzir riscos e criar um impacto benéfico.
Os princípios da governança corporativa fornecem diretrizes que orientam o sistema de gestão e supervisão das organizações. Eles incluem aspectos como responsabilidade, equidade, transparência e prestação de contas, que devem ser estritamente seguidos pela administração.
E esses conceitos vão totalmente de encontro com os pilares do Ecossistema FESA, que teve o prazer de conversar com a Co-Fundadora do Programa “Mais Mulheres na Governança” para a sexta edição do FESA Entrevista e para apresentar a importância de terem mulheres em cargos na Governança Corporativa. Confira abaixo:
FESA Group – Você pode contar mais sobre o programa + Mulheres na Governança? Como surgiu?
Gisah Akel – O programa Mais Mulheres na Governança surgiu por acaso. Temos aqui em Curitiba um grupo de mulheres executivas que se chama MEX (Espaço Mulheres Executivas), focado em troca de boas práticas de gestão e temas de liderança de comportamento. Nos reunimos uma vez por mês e participamos de painéis com outras lideranças influentes do Brasil.
Diante das trocas que tivemos, surgiu a ideia de criar um programa para mudar a participação das mulheres nos conselhos de administração das organizações, aumentar a representatividade feminina nos conselhos e demais órgãos de governança e gerar uma riqueza única ao processo decisório.
O programa começou ano passado, e organizamos para ser realizado em duas etapas. As etapas foram pensadas de maneira que cada participante, independente de possuir conhecimento em governança, pudesse atuar como conselheira — caso quisesse — e conseguisse implantar os mecanismos da governança na sua empresa, na empresa da sua família, ou em qualquer outra área.
FESA Group – Como as participantes podem se envolver com o programa? Existe um processo de seleção para participar?
Gisah Akel – Desde o começo criamos uma limitação de tamanho de turma, fizemos isso porque queríamos garantir que fosse uma experiência de fortalecimento de networking, e que não seria fácil conectar um grupo muito grande. Éramos 7 executivas nas escutas semanais. Do programa participaram 37 alunas, além das 8 integrantes do comitê.
Em maio do ano passado, lançamos formalmente o programa sem um pré-requisito, pois queríamos deixar de forma aberta para quem tinha interesse, e não só para pessoas que atuassem em ambientes ou em estruturas de governança. Quando acabamos de apresentar nossa ideia já tínhamos 65% das vagas preenchidas.
FESA Group – Quais os principais objetivos e metas que o programa pretende alcançar?
Gisah Akel – Tínhamos um grande objetivo de sensibilizar essas mulheres para a importância da transformação do cenário da governança. Para nós, é importante trazer mais mulheres para essa área. Assim, aos poucos, vamos transformando todo esse ecossistema.
Quando o projeto estava em seu fim, vimos que colhemos muitos resultados. Conseguimos de fato mobilizar essas mulheres a entrarem em estruturas de governança ou a formatarem as suas estruturas de governança. Das 37 participantes, 23 mulheres passaram a atuar em estruturas de governança. Esse é um crescimento muito bom, ainda mais considerando que não concluímos o programa.
FESA Group – Quais são os principais desafios que as mulheres enfrentam ao buscar posições de governança, e como o programa ajuda a superá-los?
Gisah Akel – Acho que temos várias dificuldades estruturais, mas o mais significativo, e difícil, é que a maior parte das posições de governança ainda são feitas por indicação, e em sua maioria, para homens acima dos 50 anos. Precisamos romper barreiras e, por outro lado, as mulheres também precisam se sentir um pouco mais confortáveis em se expor para ocupar essas posições.
Nossa tarefa é mostrar que nós, mulheres, estamos melhor preparadas do que de fato achamos que estamos. Precisamos que o mundo executivo entenda que pode sim existir espaço para nós mulheres, é questão de ver por outra perspectiva.
FESA Group – A Governança é uma frente importante na FESA Group, e a Cibele, consultora dessa célula dentro do ecossistema, participou do sexto encontro da segunda etapa do programa, com o tema “Ampliando Conexões”. Poderia compartilhar mais detalhes sobre esse encontro?
Gisah Akel – Foi um match perfeito. Estávamos muito receosas para os próximos passos do programa, e a Cibele trouxe uma fala tão poderosa e inspiradora sobre se conectar com outras pessoas e conseguir caminhos concretamente para mudar essa realidade. Ela trouxe isso com muita propriedade e foi espetacular.
A Cibele nos ajudou apontando objetivamente os caminhos para a gente conseguir fazer essas conexões de maneira mais bem-sucedida; falou muito sobre a importância de fazer essas articulações para se conectar em plataformas de conselho; e ela trouxe exemplos na prática. Esse encontro veio no momento ideal, ainda mais por ser uma defensora da causa das mulheres na governança.
FESA Group – Quais são os resultados ou histórias de sucesso mais inspiradores que você pode compartilhar sobre mulheres que passaram pelo programa + Mulheres na Governança?
Gisah Akel – Temos várias histórias. No início do programa, uma de nossas participantes comentou que atuava em uma empresa familiar de supermercadista que teve uma série de disputas familiares, dificuldades, e passou por uma série de turbulências. Ela nos contou com muita dor no coração sobre as situações que viveram, e apontou que se tivessem uma governança estruturada na empresa não teriam passado por isso.
Tivemos outro caso de uma participante que atuava em empresa familiar de materiais de construção e que, no caso deles, se desfizeram do negócio por falta de entendimento na família. Mas, a partir dessa troca, conseguimos apresentar no programa um tópico para empresas familiares.
Temos casos das conselheiras que foram as primeiras a desbravar esse mercado e a conseguir alcançar cadeiras importantes na governança corporativa. Elas tiveram batalhas impressionantes, primeiro para serem contratadas, e depois para justificarem o seu papel em conselho.
FESA Group – Por fim, você gostaria de contar alguma curiosidade sobre você, sobre o programa ou história que julgue relevante?
Gisah Akel – Acho que é preciso reforçar a importância de termos tido um time diverso, aprendemos muito sobre governança realizando esse programa. Tivemos uma sinergia de trabalho incrível, cada uma buscando entender um propósito maior para esse programa. A turma piloto foi um sucesso, conseguimos realmente ter uma entrega de altíssimo nível. Todas articularam seus networkings, por mais difícil que tenha sido.
Todas nós trabalhamos muito, mas precisávamos de um momento de convívio para baixar a guarda e poder trocar informações com mais intimidade. E isso foi muito valoroso.