Em um mundo em constante evolução, onde a diversidade é reconhecida como um pilar fundamental para o crescimento e a inovação, a discussão sobre o tema no mês da Consciência Negra ganha destaque. O assunto não é apenas uma questão moral, mas uma necessidade estratégica para as organizações que almejam um futuro inclusivo e sustentável. 

Como diversidade e inclusão faz parte dos pilares do Ecossistema FESA, e com a consciência de que é imperativo explorar as implicações dessa temática na esfera executiva, a FESA Group convidou e teve o prazer de conversar com o Anderson Assunção, Presidente do Conselho do Instituto Pactuá — cuja visão estratégica tem contribuído para promover a igualdade racial nos ambientes corporativos —, para a décima edição do FESA Entrevista, desafiando paradigmas e promovendo um diálogo que transcende as barreiras raciais. Confira!

FESA Group – Quem é o Anderson? Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória pessoal e profissional até chegar à Pactuá?

ANDERSON ASSUNÇÃO – Eu costumo dizer que sou um reflexo de todos aqueles que vieram antes de mim. Estou em um constante processo de resgate da história da minha família, e aos poucos, estou traçando meu caminho. Descobri que, provavelmente, minha bisavó materna foi uma pessoa escravizada. Pensar que, em apenas três gerações, conseguimos sair de uma desvantagem absoluta para estar no mercado, liderando organizações como executivo, é o aspecto mais relevante da minha história.

Meus pais sempre se esforçaram para que eu estudasse, aprendesse inglês e tudo que tinha direito. Eles buscaram me blindar contra o preconceito, embora eu saiba que esse pensamento, em parte, é equivocado, pois o preconceito está enraizado na sociedade. Porém isso me permitiu entrar no mercado de trabalho em condições semelhantes às de pessoas não diversas, e sou extremamente grato.

Ao longo de minha carreira, tive a oportunidade de viver no exterior, depois retornei ao Brasil e assumi cargos de liderança em empresas. Durante a pandemia, em parceria com outros amigos, fui inspirado a criar o Pactuá, focado em promover o acesso de pessoas negras a cargos executivos. Iniciamos o projeto com a ideia de uma mentoria com 14 mentorados e 14 mentores, expandindo para 40 com o auxílio da FESA Group, que foi importantíssimo. Superamos desafios na organização, mas as conexões estabelecidas resultaram em aprendizado mútuo e sucesso gratificante. Eu mesmo posso comprovar, meu mentor era da área jurídica e agregou muito na minha vida!

FESA Group – Quais foram os principais desafios que enfrentou ao longo de sua carreira?

ANDERSON ASSUNÇÃO – Os desafios que enfrentei ao longo da minha carreira se tornam mais evidentes agora, com o benefício da retrospectiva. Na época em que estava imerso nessa jornada, tocando minha vida, muitas dificuldades pareciam parte do cotidiano. Por exemplo, iniciei meu percurso profissional muito antes dos meus pais. Ao concluir o ensino médio, optei por um curso técnico gratuito, pois precisava contribuir financeiramente para sustentar minha família. Havia momentos em que conciliava trabalho e estudo, acordando às 4 da manhã para frequentar a faculdade, seguido pelo expediente e retornando para casa à meia-noite, apenas para recomeçar o ciclo às 4 da manhã do dia seguinte. Hoje percebo essas experiências como desafios extremos, mas na época os encarava como oportunidades valiosas. Sou grato por ter mantido essa perspectiva, uma vez que ela foi fundamental para minha inserção no mercado de trabalho.

Além disso, só consegui perceber o impacto do racismo ao mudar para outro país. Em viagens a trabalho, por exemplo, me deparei com situações em que era o único homem negro em uma sala de reuniões composta majoritariamente por homens brancos, como aconteceu nos Estados Unidos. As complexidades das diferenças culturais são um desafio que as empresas precisam abordar com cautela.

FESA Group – Como surgiu a parceria entre o Instituto Pactuá e a FESA Group? Qual tem sido o impacto dessa colaboração no desenvolvimento de talentos e diversidade na liderança?

ANDERSON ASSUNÇÃO – A parceria entre Instituto Pactuá e a FESA Group teve origem por meio do interesse genuíno de Carlos Guilherme, CEO do Ecossistema, e o Jaime Almeida, vice-presidente e responsável por Diversidade e Inclusão na FESA Group e atual conselheiro e mentor do Pactuá. A FESA expressou o desejo de explorar novas possibilidades, e o Pactuá, por sua vez, estava disposto a apoiar essa iniciativa. A colaboração se revelou um sucesso graças ao envolvimento significativo da FESA; muitos de seus sócios participaram ativamente nas entrevistas da Pactuá, atuando como mentores e no processo de matching. O apoio próximo da FESA fez uma diferença substancial, e expresso meu sincero agradecimento em nome do Pactuá.

FESA Group – Como estamos no mês da Consciência Negra, aproveitamos para fazer esse gancho: quais são as iniciativas ou ações que as empresas podem e devem promover para engajar seus colaboradores? 

ANDERSON ASSUNÇÃO – Em relação ao mês da Consciência Negra, é importante destacar que as ações não devem se restringir a novembro, mas ser contínuas ao longo do ano. As empresas precisam manter a conscientização de forma consistente. Uma iniciativa crucial é não ignorar o potencial de talentos provenientes da população negra. Para isso, tenho uma sugestão: que as empresas abordem a pauta de maneira proativa durante todo o ano, endereçando e reconhecendo esse percentual de talentos.

FESA Group – Poderia compartilhar um pouco sobre a participação da FESA Group na coordenação do programa de Mentoria Pactuá, edição 2023?

ANDERSON ASSUNÇÃO –  A FESA desempenhou um papel crucial na coordenação do programa de Mentoria Pactuá na edição de 2023. Inicialmente, contávamos com 14 mentores e mentorados, e com o apoio da FESA conseguimos expandir significativamente para aproximadamente 47 participantes. 

Com o aumento no número de participantes, a FESA desempenhou um papel fundamental na avaliação de todos os inscritos no projeto. Colaboraram conosco para garantir a melhor correspondência possível entre mentores e mentorados, não apenas apoiando nas entrevistas, e proporcionando uma compreensão mais aprofundada das habilidades e experiências de cada indivíduo, mas também sendo protagonista na formação de pares bem-sucedidos. Os resultados dos matches foram, de fato, excepcionais, graças à expertise e colaboração da FESA Group.

FESA Group – Considerando o envolvimento de líderes, como o Jaime, como mentores voluntários, como essa participação influencia o programa de mentoria do Pactuá?

ANDERSON ASSUNÇÃO –  A participação de líderes, como o Jaime, como mentores voluntários, trouxe uma dimensão única e extremamente positiva para o programa de mentoria do Pactuá. A generosidade demonstrada por esses mentores foi uma fonte de alegria, com uma adesão significativa de profissionais dedicados. O projeto, enriquecido por essa generosidade, juntamente com a colaboração de consultores que se uniram a nós, resultou em duplas de mentor-mentorado altamente comprometidas.

A dinâmica diária reflete o empenho dessas parcerias, e pessoalmente, experimento uma conexão excelente com meu mentorado. A ideia central por trás dessa abordagem foi unir indivíduos com base naquilo que podem aprender e oferecer mutuamente. Os mentores, incluindo líderes como o Jaime, oferecem não apenas suas habilidades e conhecimentos, mas também diferentes perfis comportamentais e temperamentos, criando uma sinergia valiosa. Este encontro de diversidade de perspectivas e experiências se torna fundamental para o desenvolvimento abrangente e eficaz no contexto do programa de mentoria do Pactuá.

FESA Group – Como os interessados podem se envolver ou contribuir com as iniciativas da Pactuá em prol da diversidade e inclusão?

ANDERSON ASSUNÇÃO –  Para aqueles interessados em se envolver ou contribuir com as iniciativas do Pactuá em prol da diversidade e inclusão, temos diversas opções de participação. Estamos ativamente presentes em plataformas como o LinkedIn, e você pode encontrar mais informações em nosso site. Estamos abertos a abordagens de diversas formas; basta nos enviar uma mensagem através de qualquer canal disponível.

Valorizamos muito a participação de todos, e fazemos questão de garantir que aqueles que desejam contribuir sejam acolhidos de maneira significativa. É raro encontrarmos alguém que manifeste interesse e que não esteja no momento certo para se envolver. Geralmente, as pessoas que nos procuram têm uma genuína vontade de fazer a diferença e ajudar. Como destacou o Jaime, muitas delas estão no auge de suas carreiras, o que adiciona uma camada de experiência valiosa ao nosso grupo de apoiadores. Portanto, sinta-se à vontade para entrar em contato conosco, pois estamos ansiosos para receber todos os interessados em ser parte ativa das nossas iniciativas.

FESA Group – Por fim, você gostaria de transmitir alguma mensagem para a comunidade, especialmente para jovens negros que estão ingressando no mercado de trabalho? E para aqueles que já estão no mercado de trabalho, mas que acham que os cargos executivos, enquanto pessoa negra é uma realidade distante?

ANDERSON ASSUNÇÃO –  Não se limite. Abandone a ideia de que determinadas posições não são para você. Isso não é verdade. Embora seja um fato que, às vezes, o caminho pareça mais acessível para quem possui as conexões certas, é crucial entender que o mercado está cada vez mais receptivo à diversidade. Se você aspira construir uma carreira e fazer parte do mundo corporativo, não se coloque barreiras. Candidate-se para as vagas. Você possui, sim, as competências necessárias.

O mercado de trabalho está evoluindo, e as oportunidades estão se expandindo para abraçar a diversidade. Não subestime suas habilidades e não deixe que percepções pré-concebidas limitem seus objetivos. Seja audacioso ao perseguir seus objetivos profissionais. Para aqueles que já estão inseridos no mercado de trabalho e sentem que alcançar cargos executivos como pessoa negra é uma realidade distante, lembrem-se de que as barreiras estão sendo derrubadas. Invistam em suas habilidades, busquem mentorias, e acreditem que vocês têm o potencial não apenas de ocupar esses cargos, mas também de causar um impacto significativo. O caminho pode ser desafiador, mas é plenamente possível alcançar os mais altos patamares profissionais.