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FESA Entrevista Silvia Pedrosa, Superintendente na FBN Brasil

No Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, correspondem a mais da metade do PIB e empregam 75% da mão de obra no País.  Para promover o sucesso, longevidade e sustentabilidade das companhias familiares, a FBN (The Family Business Network) foi fundada em 1989 em Lausanne, na Suíça. Trata-se da maior organização de famílias empresárias do mundo, que proporciona networking, conhecimento e pesquisa para o sucesso dos núcleos de famílias empresárias ao longo das gerações.

Sua função é contribuir para que seus membros descubram, a partir de uma aprendizagem compartilhada, o propósito da liderança, a promessa de famílias harmoniosas e o potencial de cada líder em ser responsável pelos negócios. Há mais de 20 anos no Brasil, seu trabalho tem sido pauta por três pilares: networking, conhecimento e pesquisa.

Neste FESA Entrevista, convidamos Silvia Pedrosa, Superintendente da FBN Brasil desde 2019, para explicar sobre o trabalho da instituição, os desafios de seus membros, como funcionam as parceiras, o que motiva seu trabalho e os planos para 2024. Confira!

FESA Group – Como a FBN chegou ao Brasil e qual tem sido seu trabalho no país? 

Silvia Pedrosa – Nos anos finais da década de 80, uma turma de membros de famílias empresárias na Europa fez um curso sobre gestão e governança de empresas familiares numa universidade suíça chamada IMD (International Institute for Management Development). Depois de cumprido o programa, estes participantes continuaram em contato e nas trocas entre eles surgiu a percepção clara de que fazia falta um fórum de troca e aprendizado de família para família. Assim, nascia a FBN na Suíça. 

O projeto foi se espalhando e uma hora chegou em algumas famílias e consultores brasileiros. Estas pessoas passaram a frequentar os eventos da FBN na Europa e ficaram muito impressionadas com o nível de confiança, a abertura das conversas, o ambiente seguro, o ganho em aprendizado, a diferença que fazia para as famílias e para seus negócios participar daquele fórum. Esse encantamento virou uma mobilização para trazer a FBN para o Brasil e isso finalmente aconteceu oficialmente no final de 2001.

A FBN, já diz a sigla, é uma rede de relacionamento feita por e para membros de famílias empresárias para que estas pessoas aprendam compartilhando suas histórias e ouvindo as das outras num ambiente de confiança, troca genuína, identificação e segurança. A ideia é que as famílias tenham mais consciência do quanto são relevantes para a economia dos seus países e para as sociedades em que atuam por funcionarem como forças motoras da engrenagem que as move. E que, dotados dessa consciência, possam se preparar para conduzir seus negócios e as relações de maneira sustentável. 

Os indicadores oficiais mostram que, no Brasil, cerca de 90% das empresas são familiares — 2/3 do PIB vem dessas organizações, 75% da mão de obra do país está com elas. Cuidar para que essas famílias se orgulhem disso e criem perspectivas de futuro para suas empresas é o trabalho da associação no mundo e aqui também.

FESA Group – O que te motivou a ir trabalhar na FBN, e o que segue te motivando nessa jornada?

Silvia Pedrosa – Sou jornalista e historiógrafa de formação, editora, produtora de conteúdo e produtora cultural de carreira. Numa das curvas da vida, acabei indo trabalhar na holding de uma grande família empresária brasileira e aprendi sobre empresas familiares e a jornada de desenvolvimento tão necessária aos acionistas para que entendam e possam desempenhar bem seu papel, qualquer que seja ele. 

Sempre foi importante para mim, como jornalista e produtora, a sensação de que o meu trabalho de alguma forma melhorava a vida de alguém. E quando fui trabalhar para famílias, me perguntei muitas vezes se melhorar a vida de quem tinha tanto privilégio era a melhor aplicação do meu esforço.

Acontece que uma hora me dei conta que as famílias empresárias têm um potencial de transformação tão grande que não consigo pensar numa ONG ou numa causa que possa ser mais potente isoladamente. E isso me deu muita motivação! 

Depois de voltar a trabalhar com produção cultural, em 2019 cheguei na FBN — não para desenhar propostas para uma única família, como no passado, mas para pensar em uma operação de desenvolvimento e troca com a dinâmica de uma comunidade. A ideia de que uma teia de intenções e apoios se tece pelo simples fato de um grupo de pessoas estar na mesma busca também me motiva muito na FBN. 

FESA Group – Quais são os grandes desafios das empresas familiares? Como tem sido a transição para a nova geração de herdeiros?

Silvia Pedrosa – Se cruzarmos em um diagrama os desafios de relacionamento das famílias e os de gestão das empresas, temos uma pista dos desafios das empresas familiares. É quando participação significa, muitas vezes, pertencer mais ou menos àquela família, quando ser considerado capaz de contribuir com um negócio está ligado a se sentir mais ou menos validado como filho ou irmão, quando as expectativas das pessoas que amamos estão também ligadas ao sucesso de um negócio que muitas vezes sustenta todas elas. São muitas sobreposições, o que torna tudo mais desafiador, mas também mais bonito — estamos falando de desenvolvimento humano, de negócios e das relações que os sustentam. 

O trabalho na FBN me mostra que transparência, diálogo e perseverança são fatores importantes para que essa equação tão complexa pareça cada vez mais solúvel para as famílias. 

Transições de gerações são historicamente momentos críticos das empresas familiares e responsáveis pela dissolução de muitos negócios ao longo da história. O que tentamos criar na FBN é um ambiente de conversa franca, onde as dificuldades e dores das pessoas envolvidas em processos como estes são debatidas e olhadas com cuidado e sem julgamento.

Ouço de vários parceiros consultores, advogados e, sobretudo, de várias famílias, que a FBN não só ajuda, mas muitas vezes os resgata como família. Do lugar onde estou, ou seja, de dentro da FBN, a transição parece estar ganhando a leitura de algo positivo que oferece a chance de um reconhecimento justo a quem entrega o bastão e de um voto de confiança e apoio a quem o recebe. 

FESA Group – Como a FBN consegue impactar positivamente as empresas familiares por meio de suas parcerias, por exemplo, com a FESA? 

Silvia Pedrosa – Tenho dito duas coisas sempre ao apresentar a FBN para famílias pelo Brasil. A primeira é que a associação é uma trama de esforços conjugados, todo mundo põe um tijolo na construção constante que estamos fazendo. Todos e cada um são chamados a contribuir, do contrário não seríamos uma comunidade, seríamos prestadores de serviço simplesmente. O coletivo faz a FBN, o mesmo coletivo que se beneficia de seu trabalho. E os parceiros estão neste coletivo, sem dúvida alguma. 

E a segunda coisa que digo, ligada à primeira, é que cada família tem uma história. Um parceiro como a FESA Group tem muitas histórias das muitas famílias que já atenderam. Isso vitaliza a rede de maneira muito importante, traz uma visão mais recuada e panorâmica das necessidades que se repetem nas famílias, das dores que são recorrentes e das demandas comuns. 

Um dos slogans da FBN é a frase “the wisdom is in the room” (a sabedoria está na sala, em português) — não queremos ser arrogantes, mas o caráter global traz alguns jargões em inglês que são refletem bem a essência da organização. A verdade desta frase é intensa para nós e se aplica aos parceiros. O saber acumulado e a experiência com famílias empresárias que eles trazem para a mesa são muito relevantes. 

FESA Group – Quais são os planos da FBN para 2024?

Silvia Pedrosa – Aprofundar, organizar melhor e trazer mais qualidade para as experiências de aprendizado e desenvolvimento das famílias empresárias é nossa maior meta para o ano que chega. Graças a um Conselho participativo e aberto, que visa manter um canal de escuta para os associados, os caminhos para isso têm ficado cada vez mais tangíveis.

Após anos de pandemia, em 2023 finalmente foram retomados os encontros regionais presenciais, que reproduzem o ambiente de troca genuína e aprendizado intenso pelo Brasil todo. A agenda de encontros como estes em 2024 já está desenhada e vem sendo discutida com os parceiros que apoiam cada uma dessas situações de acordo com as famílias que atendem nas localidades.

Vamos tentar um equilíbrio de eventos online com eventos presenciais para não deixar de atender ninguém, mas também vamos repetir a experiência da Learning Journey da Amazônia em outra região do país — surpresa, por enquanto. A experiência de viajar com um grupo pequeno de associados se mostrou uma oportunidade singular de troca e queremos nos aperfeiçoar nisso. 

O Clube dos Experientes, comunidade de troca de pessoas que está passando ou já passou por uma transição de gerações, terá seu primeiro encontro presencial com uma agenda que promete invejar NxG’s e NowGens. Internacionalmente, teremos o Summit NxG na Holanda, e o Global Summit em Tóquio — ambos devem ter delegações brasileiras numerosas. Por fim, teremos também o Encontro Nacional, que este ano acontece em São Paulo (SP).

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